A sustentabilidade no mercado da moda é pensada de forma atrelada uma ideia ligada ao meio ambiente, ou seja, em uma forma de repensar os métodos produtivos aplicados nessa indústria.

Na verdade refletir dessa forma é restringir demasiadamente um conceito que deve nos orientar de forma ampla quando tratamos de definir responsabilidade social.

Assim, para comentar sobre princípios de moda sustentável é necessário conhecer os conceitos de fast fashion e slow fashion.

O fast fashion é o termo utilizado por marcas que possuem uma política de produção rápida e contínua de suas peças, trocando as coleções semanalmente, ou até diariamente, levando ao consumidor as últimas tendências da moda em tempo recorde e com preços acessíveis.

O slow fashion é uma alternativa à produção em massa, que incentiva que tenhamos mais consciência dos produtos que consumimos, retomando a conexão com a maneira em que eles são produzidos e valorizando a diversidade e a riqueza de nossas tradições, apoiando um tempo compatível para um processo criativo e produtivo responsável, que produz mercadorias não descartáveis, relacionadas ao conceito de ser e não apenas ter, que incentiva a consciência ética.

Importante conhecer esses conceitos, pois a partir deles se desenha todo o cenário da sustentabilidade do mercado da moda, não atrelado apenas ao conceito de coisas “ecos e “verdes”, mas sim de uma moda ética.

Importa destacar que devemos conhecer os demais protagonistas desse conceito de moda sustentável, pois não sendo a moda sustentável apenas aquela atrelada ao meio ambiente, não podemos indicar as indústrias como as únicas responsáveis por fazer a moda sustentável.

A verdade é que a indústria da moda é uma das participantes responsáveis por bem observar um dos pilares da sustentabilidade, que é o meio ambiente, pois as questões que impactam na sustentabilidade abrangem todo o ciclo de produção e consumo do vestuário, desde a produção das fibras até o descarte do produto final.

Não devemos ainda nos esquecer de que além dos processos produtivos, muitos designers de moda ainda não possuem consciência da responsabilidade e importância de seu papel diante do impacto ambiental, e atrelam seu processo criativo apenas ao toque e caimento que determinado tecido.

Assim, tanto as empresas quanto os estilistas devem investir em pesquisas para criação de produtos sustentáveis, com investimento em pesquisas de novos produtos, com novas tecnologias, design e respeito às normas ambientais.

A máxima de que fazer moda sustentável envolve quantias vultosas, não pode mais ser aceita vinda de um mercado multimilionário, que tem como principio primordial a criatividade e inventividade.

Ademais, desenvolver produtos com preço mais elevado, porém com um maior respeito a ética e sustentabilidade, desde que demonstrado com transparência ao consumidor, não refletiria queda na margem do lucro, pois o foco passa ser a qualidade e não a quantidade, e por isso o custo refletiria o valor agregado do produto.

A indústria deve demonstrar aos seus consumidores por meio de suas milionárias campanhas de marketing que o preço é compatível a produção de uma mercadoria sustentável, ou seja, isenta de processos industriais devastadores do meio ambiente.

Importante destacar que uma diversidade de grandes marcas de moda não possuem controle total sobre suas cadeias de fornecimento, tornando assim as práticas de trabalho ilegais possível, isso inclui tráfico e servidão.

Ademais, parte do trabalho feito para fabricar uma coleção de roupas é repassada para vários terceirizados, sendo que  o rastreamento de todos os passos da matéria-prima, da cadeia produtiva, até o produto final é deixado de lado, não sendo efetivado pelas grandes marcas, o que possibilita que a exploração ilegal passe despercebida, nada mais lamentável, pois é o lucro se sobrepondo ao ser humano.

Por esses motivos é que devemos inserir o governo como outro participante necessário quando se trata de pensar em moda sustentável, pois não adianta apenas pontuar que as marcas devem se responsabilizar pelo controle de sua cadeia produtiva seja própria ou terceirizada, temos que atribuir ao governo sua obrigação de fiscalizar.

O governo deve então adotar medidas de fiscalização e ainda de incentivo para aqueles que praticam seus negócios de forma ética, consciente, e, portanto, responsável.

Atuar apenas quando o fato lesivo já ocorreu, não é suficiente, há que se pensar em campanhas preventivas, não apenas de ajustamento de conduta, utilizadas quando o estrago já está feito.

O lançamento de campanhas preventivas poderia atuar para que as empresas fossem beneficiadas com incentivo fiscal para implementar por exemplo, verificação médica de exames básicos, visando a contratação apenas de modelos que possuem condição de saúde adequada e não compatível apenas com padrão estético esquelético e mal nutrido.

Também fomentar campanhas educativas ao consumidor que demonstre o real custo da mercadoria, pontuando de forma clara que o custo reflete um desenvolvimento de produto duradouro e fabricado sem degradação do ser humano. Além disso, investir em educação faz com que o consumidor possa fazer escolhas conscientes e responsáveis.

Quando o consumidor é bem instruído saberá tomar decisões baseadas na ética, não aceitando consumir produtos que não se relacione com valores da dignidade da pessoa humana, esse seria o verdadeiro boicote que impulsionaria a poderosa indústria a repensar de fato na sua cadeia produtiva e nos produtos que disponibiliza no mercado.

Por isso, o consumidor é outro importante protagonista na mudança que queremos ver na poderosa indústria da moda. Não adianta reclamar e ir à loja comprar produtos baseados apenas no último lançamento e porque é barato, sem se questionar de qual lugar aquele produto é proveniente, quem o fez e a custa do que.

De se refletir que a roupa serve para transmitir uma imagem, e nos traz uma relação intima de pertencimento, assim, o consumidor deve questionar a que energia deseja se atrelar, devemos pensar nisso, ao invés de se alegrar em comprar dez blusas por vinte reais.

A sustentabilidade então deve ser refletida como uma forma de atuar com responsabilidade social com maior inovação e melhoria no processo produtivo, objetivando diminuir a agressão ao meio ambiente, e visando aumentar a durabilidade do produto, conferindo-lhe maior tempo de vida, bem como promover trabalho justo e economicamente viável.

Renata Honorio Yazbek – Advogada – Pós Graduado em Processo Civil e Direito Civil pela ESA/SP – Diretora da Comissão de Moda da OAB Jabaquara – SP – Sócia Diretora da Honorio Advogados Associados Contato: renatahonorio@honorioadvogados.com.br